30 de outubro de 2008

"Eles já viveram tudo e sabem que a vida é bela" - Sábado, Abril 05, 2008


Um copo de plástico em cima da lixeira, bordas meladas de suco e metade cheia de água de chuva. A abelhas faziam a festa, girando pra lá e pra cá, tentando roubar um pouco de açúcar. Algumas mais gananciosas acabaram afogadas, enquanto as outras voavam com cuidado e tentavam se equilibrar nas beiradas. As sobreviventes não pareciam ligar para as amigas burras e eu fiquei refletindo sobre isso, perdida nos meus pensamentos, quando um casal de velhos se aproximou. Tinham manchas grandes no rosto, a pele era fina, ela andava curvada e ele de muletas. Chuto uns oitenta e poucos anos. E não, não tinham aparência bonitinha, que me despertasse compaixão. Era só um casal de velhos.
A velha chamou a atenção do velho para o copo cheio de abelhas. Aproximaram-se, tentaram entender porque elas estavam ali. Ele achou que elas foram beber água. Ela achou idiota e eu também. Nunca ouvi falar que insetos bebem água. Será? Fiquei me esforçando para pensar se bebiam ou não, revendo na mente minha apostilinha de biologia. Foi aí que a velha deu um peteleco em uma abelha, fazendo com que ela caísse no chão, desorientada.
Achei maldoso, mas ela não. Ela riu, riu deliciosamente, e para concluir a cena pisou na abelha, esfregando a pontinha do pé, como se quisesse garantir que ela não sobreviveria. Tornou a repetir a ação com mais três abelhas, e riu com o mesmo prazer, em todas às vezes. Sobraram umas quatro abelhas, talvez alheias a tudo que acontecia com suas companheiras, talvez felizes por escapar, mas o velho deu um peteleco ainda mais leve, fazendo com que elas caíssem, uma a uma, dentro do copo, somando ao número de afogadas.
Queria ver se ele também daria risada, mas o ônibus chegou e eles se apressaram para entrar na fila, passando na frente dos outros velhinhos e garantindo seus bancos reservados.

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